segunda-feira, 11 de julho de 2011

1.
ter na carne a cidade; os dias brancos cheios de luz,
uma casa edificada, lívida:
agora só um idioma de sangue na boca,
as demoradas palavras.


tocar a pedra, os caminhos que os corpos procuram,

ser sombra e respirar o teu húmido rosto.




2.
agora os candeeiros iluminam as pessoas,
os carros escavam os gemidos
que o tempo traz.
vejo sempre uma criança nas calçadas de granito,
aguarda a sua vez para atravessar um rosto desconhecido,
quase limpo como uma voz.

era invisível o toque abrasado da distância,
um lume dentro dos meus ossos, destinado à carne.




3.
das janelas,
brancas pombas misturam-se aos ramos cegos –
frutos miseráveis que ocupam a memória.


luís de aguiar


Três poemas do livro "Urbanos"
Prémio Literário São Domingos de Gusmão 2007

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